O Centro Cultural Agué Marê é uma organização que define sua linha de atuação em torno do eixo da promoção do acesso das populações afro brasileiras à cidadania através do desenvolvimento de ações afirmativas e fomento a iniciativas e articulações de atores sociais significativos e representativos. Pretende servir de meio e mecanismo para que as populações e as organizações do movimento social tornem-se protagonistas de seu próprio momento histórico e formuladores de seu próprio futuro.

Toma como base a tese central do Educador Paulo Freire de que, a educação é um processo político e transformador a partir da própria realidade do partícipe, pois, é ele que, na realidade define o conteúdo pedagógico do processo educativo, com base na sua própria experiência. Desse modo, transforma a educação num processo dinâmico e cultural que alcança uma amplitude muito maior do que a sala de aula, existindo no mundo da cultura, vista essa, como o processo da construção do entendimento, inserção e mudança da realidade do ator social.

Interessa agir diretamente junto às populações afro brasileiras, especialmente aquelas que mantêm alguma forma de ligação com as religiões de matriz africana, por entender que este é um nicho com conteúdo significativo de formação da personalidade do coletivo brasileiro que, embora exaustivamente trabalhado, pesquisado e esclarecido pela academia e institutos de pesquisa social, seus resultados alcançam, preferencialmente, o mundo acadêmico e raramente atingem as populações que foram seus objetivos de estudo. Assim, praticamente, não servem à reflexão dessas mesmas pessoas sobre sua realidade e, nem criam mecanismos para que elas possam interferir e mudar essa realidade.

Desse modo, faz sentido o foco nas populações afro brasileiras ligadas às religiões de matriz africana, pois, embora não seja privilegiado apenas os segmentos ligados às práticas religiosas, pretende-se que estas sejam público considerado na atuação do Centro Cultural Agué Marê, bem como segmentos e pessoas que, desenvolvem formas diversificadas de arte, de expressão artesanal, de ser, de sentir, uma visão de mundo cuja orientação tenha origem nas tradições das culturas das nações africanas que foram trazidas ao Brasil durante o período do tráfico de pessoas escravizadas e, nas culturas das nações que, atualmente estabelecem uma aproximação dos povos de ambos os continentes, já como nações soberanas e independentes.

Além do foco cultural, o Centro Cultural Agué Marê desenvolverá trabalhos e ações de conscientização das populações quanto aos seus direitos de cidadania, mais precisamente no que diz respeito à religião, diversidade de gênero, juventude e terceira idade, artes, meio ambiente, saúde das populações afro brasileiras, segurança alimentar, educação, trabalho e renda e tecnologias da informação, colaborando tanto com as organizações estatais, quanto com as não governamentais na ampliação e aperfeiçoamento da democracia e no combate a toda forma de preconceito e discriminação utilizando mecanismos que  posteriormente serão descritos e suas respectivas estratégias apresentadas.

O Centro Cultural Agué Marê pretende manter convênios e acordos com governos, entidades populares, organizações não governamentais, entidades sindicais e eclesiais, com grupos sociais não organizados, colaborando na organização dessas populações, participando, assessorando e fomentando as atividades que realizarem, bem como, desenvolvendo atividades em diversos eixos que, abaixo serão elencados.

Buscar-se-á o apoio das agências estatais tanto no suporte financeiro quanto na logística para o desenvolvimento de suas ações e, na manutenção de toda a estrutura de funcionamento, suporte e assessoramento que for necessário à concretização de seus objetivos.

Pretende ainda, buscar apoio de outras fontes de financiamento para atender conjunturalmente as especificidades de ações que não tenham sido contempladas em convênios firmados.

Essa estratégia obedece a uma diretriz fundamental do Centro Cultural Agué Marê de não comercializar suas ações, para que seu público tenha, sem nenhum óbice, acesso às mesmas, como seminários, cursos, palestras, feiras, exposições, entre outros, que serão desenvolvidos pelo Centro Cultural Agué Marê.

Seus principais eixos de trabalho são:

·         Religião – com realização de ações efetivas que elevem a convivência inter-religiosa, provocando o Estado a criar mecanismos e ações de defesa da multiplicidade religiosa, desenvolvendo junto às comunidades religiosas de matriz africana institucionalização, esclarecimento e defesa de seus direitos, enfrentamento à intolerância religiosa e apoio às atividades de cunho educacional, artístico e cultural nesses espaços;

·         Arte – com apoio às mais diversas formas de propagação das produções artísticas e culturais da população afro brasileira, atendendo aos eixos de trabalho aqui tratados, desenvolvendo ações que visem valorizar, reconhecer e ampliar o acesso à produção artística e cultural pelo maior contingente de população possível;

·         Meio ambiente – com ações de esclarecimento e desenvolvimento sobre a preservação do meio ambiente, fomentando divulgação junto às comunidades afro brasileiras com projetos de replantio, preservação de espaços e produção de materiais educativos sobre o tema em questão;

·         Gênero – com apoio, participação e realização de ações contra a homofobia, esclarecendo as populações LGBT sobre seus direitos, promovendo respeito à diversidade de opção sexual e a convivência pacífica entre todos os membros da sociedade;

·         Saúde – com ações de esclarecimento e informação sobre os problemas de saúde quer sejam específicos das comunidades afro brasileiras, quer sejam comuns a toda sociedade, garantindo direito de acesso à saúde com tratamento nas instituições públicas, desenvolvendo também, projetos educacionais de prevenção às DSTs, planejamento familiar e de erradicação de doenças comuns a essa camada da população;

·         Segurança alimentar – participando diretamente junto às organizações da sociedade civil de ações que possibilitem o acesso à alimentação de qualidade a todas as pessoas que necessitarem do apoio para tal. Desenvolver e realizar ações de conscientização dos diretos a segurança alimentar e dos mecanismos de cesso a eles. Fomentar inciativas populares de produção coletiva e cooperativada de alimentos e alimentação de subsistência e de distribuição comunitária, que atendam e se insiram dentro das regras dos programas de segurança alimentar, e que respeitem a produção ecologicamente sustentável e melhorem o meio ambiente;

·         Trabalho e renda – atuar diretamente junto às populações de origem afrodescendentes, e de outros segmentos sociais, particularmente as originárias de terreiros de religiões de matriz africana, e de outros segmentos, desenvolvendo ações que fomentem e viabilizem a construção de inciativas particulares e cooperativadas de trabalho formal e de renda complementar ou principal, com forma de inserir essas populações no atual quadro de prosperidade que o Brasil experimenta, e, ao mesmo tempo, as desalienem quanto a sua realidade social e econômica, quanto ao preconceito e discriminação que estão expostos, tanto pessoalmente, quanto em relação a sua condição de gênero, opção sexual, estado de saúde, opção religiosa e raça, e, também, quanto a necessidade de desenvolver ações sustentáveis tanto economicamente, quanto do ponto de vista da preservação do meio ambiente natural e social, entendido este como a preservação de seus ritos, rituais e meio ambiente, dentro das instituições religiosas, e das ligações que este meio ambiente religiosos forma entre as pessoas, que criam novos paradigmas de formar a sociedade;

·         Educação – com desenvolvimento de ações que atendam as necessidades de todos os eixos de trabalho do Centro Cultural Agué Marê, promovendo o acesso da população afro brasileira à informação, cultura, saúde, formação profissional, cidadania, entre outros tantos direitos que lhe tem sido negados durante séculos;

·         Juventude e terceira idade – com ações de esclarecimento, acesso e conscientização dos direitos inscritos em lei, promovendo, dessa forma, o pleno exercício da cidadania, destes contingentes, em particular, as populações afrodescendentes, colaborando não apenas com as organizações já existentes, como fomentando ações junto às populações desorganizadas a se organizarem, como meio de obter maior eficácia na exigência e cobrança do respeitos aos seus direitos;

·         Tecnologias da informação – com a promoção do acesso à informação de qualidade, para a elevação de sua compreensão da realidade de mundo globalizado, para o ingresso no mercado de trabalho com vista ao seu aperfeiçoamento, transformação e melhoria da qualidade de vida.

É sabido que, o exercício dos direitos para alguns, se dá pela negação dos mesmos direitos a todos os outros. Este quadro se verifica em todas as áreas e é particularmente grave, no segmento de livre exercício da orientação religiosa e na opção sexual das pessoas. Por esse motivo, o Centro Cultural Agué Marê pretende trabalhar de forma incansável para garantir à essa camada da sociedade, a garantia e o acesso aos seus direitos.

Os esforços feitos no Brasil, nos últimos oito anos, no sentido de incluir as populações afro brasileiras nos resultados do desenvolvimento econômico foram bem sucedidos, porém, a ideologia e tradição elitista que informa os segmentos dirigentes e formadores de opinião não tem cedido pacificamente às camadas populares os quinhões patrimoniais que estas conquistaram. Ao contrário, a cada vitória democrática recrudescem a reação e intransigência e criam-se mais obstáculos para que a grande maioria da população consiga avanços e melhores condições de vida. Nesse caso, o Centro Cultural Agué Marê servirá como articulador e provocador do Estado para a garantia da efetivação dos direitos alcançados por essa população.

Uma grande preocupação da elite é que o povo não exerça sua cidadania plenamente, pela elisão do acesso ao conhecimento dos seus. Assim, justifica-se a manutenção de privilégios na obtenção e emulação de status social e econômico, sob a capa do pleno exercício da cidadania e do conhecimento de direitos por um grupo ou estamento, em detrimento da totalidade da população. Acesso ao conhecimento de direitos fundamentais é um ponto focal para o avanço democrático na opinião do Centro Cultural Agué Marê.

Nesse sentido, o objetivo de promoção de acesso da população afro brasileira à cidadania, pelo Centro Cultural Agué Maré, é legítimo e importante dentro da conjuntura apresentada e, justifica o esforço de seus membros e parceiros na consecução do mesmo, quer seja como co-participantes, apoiadores, promovendo assessoria de todas as atividades que se insiram na luta democrática de enfrentamento à discriminação, intolerância, racismo e promoção do acesso aos direitos garantidos na Constituição do País.